O Relatório Global 2010 do Programa das Nações Unidas para HIV/Aids (UnAids) mostrou que, pela primeira vez na história, o surgimento de novos casos da doença diminuiu no mundo. A outra boa noticia é que estudo realizado em 11 centros de pesquisa do Brasil, Peru, Equador, Estados Unidos, África do Sul e Tailândia indicam que o uso profilático do antirretroviral Truvada (que reúne as substâncias tenofovir e emitricitabina, este ainda sem registro por aqui) pode reduzir o risco de infecção pelo vírus HIV em até 44%. Atualmente, o medicamento é usado apenas para o tratamento de pessoas já infectadas pelo vírus e não está disponível no Brasil, onde o trabalho foi feito por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz, Universidade de São Paulo e Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Dia Mundial de Combate à Aids é celebrado em 1º de dezembro. O relatório global com dados atualizados da Aids traz a informação de que, de 2001 a 2009, o ritmo de crescimento das infecções caiu cerca de 20%, inclusive na África Subsaariana, região que ainda concentra a maioria dos diagnósticos. No Brasil, o número das ocorrências da doença em 2009 ainda não está finalizado, mas o Ministério da Saúde (MS) estima que esse indicador ficará abaixo dos 34 mil casos diagnosticados no país em 2008. No total, 56 países conseguiram estabilizar a doença ou até reverter a tendência, com uma queda da incidência do vírus. “Pela primeira vez, podemos dizer que estamos quebrando a trajetória da Aids. Freamos a epidemia e começamos a revertê-la”, afirmou o diretor-executivo da UnAids, Michel Sidibé. Porém, as estimativas ainda são alarmantes: 33,3 milhões de pessoas estão contaminadas. A região mais afetada é a África, onde estão 60% dos novos casos de Aids: 1,3 milhões de mortes em 2009 e 1,8 milhões de novas infecções. Desde a década de 1980, mais de 60 milhões de pessoas já foram infectadas no mundo, sendo que 30 milhões morreram. O que se comemora agora é que o número de 2009 é um pouco inferior aos 33,4 milhões de pessoas infectadas em 2008. Em 1999, 3,1 milhões de novos casos foram detectados. Hoje, são 2,6 milhões por ano. Entre os jovens dos países pobres, a queda é de 25% diante do uso cada vez mais frequente de preservativos. Apesar da diminuição do surgimento de novos doentes, o número de pessoas com Aids vivendo em todo o mundo subiu. “Mas, com o aumento do acesso aos tratamentos, a mortalidade está diminuindo em um ritmo mais rápido do que a queda de novos casos”, explica Pedro Chequer, coordenador da UnAids no Brasil. “Com o tempo e a continuação da diminuição de novos casos, a Aids pode se tornar uma doença crônica como qualquer outra, e não mais uma pandemia.” Como os dados brasileiros detalhados ainda não foram divulgados, ficou difícil para a ONU definir a situação por aqui. As projeções indicam entre 18 mil e 70 mil novos casos no ano passado — ou seja, da diminuição pela metade à duplicação de registros, algo absolutamente inconclusivo. O Ministério da Saúde, porém, trabalha com a queda de casos no país. E comemora: “Isso é fruto de um trabalho consistente que vem sendo feito nos últimos anos, e fez com que o Brasil se tornasse referência no controle da Aids”, alega o médico mineiro, Dirceu Greco, diretor de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do MS.
Redução de recursos
O relatório da ONU também alerta para alguns problemas que precisam ser resolvidos caso se queira atingir o 6º Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, de reduzir o número de casos de Aids. Um deles é a falta de financiamento. “Estima-se que no ano passado houve US$ 15,9 bilhões. O número pode parecer alto, mas não o suficiente para o tamanho do problema”, acrescenta Chequer. Segundo estimativas internacionais, são necessários US$ 26,8 bilhões anuais para lidar com a doença. Na ONU, as contribuições caíram de US$ 7,7 bilhões para US$ 7,6 bilhões. Só os europeus deixaram de dar mais de US$ 700 milhões diante da crise econômica que enfrentam. A Itália suspendeu todas as doações. O volume da queda mundial só não foi maior porque o governo norte-americano decidiu ampliar sua contribuição em US$ 400 milhões. “Não podemos achar que essa é uma batalha já vencida. Em pelo menos sete países da Europa Central e da Ásia, os números estão em plena expansão. Em um ano, a alta foi de 25%", comenta o diretor-executivo da UnAids, Michel Sidibé. Por enquanto, apenas 5 milhões de pessoas têm acesso a remédios, um terço dos que precisariam. Mas o número de pessoas recebendo tratamento começa a subir. Em 2004, eram apenas 700 mil os beneficiados, dos quais um terço estava no Brasil. Em 2007, para cada duas pessoas que começavam a receber o tratamento, cinco eram contaminadas. Hoje, para cada pessoa que recebe o tratamento, duas são contaminadas.